segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Oxé de Xangô

Cortante é o passado.
Seu medo do quando
na alma de hoje
empunhando o machado.

Volúpia é tempestade.
Desejo amante,
raio que cai
de razão metade.

Justiça é o povo.
Rosa rainha
que do chão enfeita
horizonte novo.

Rolar é pedra.
Somos feitos assim,
sem tirar nem pôr,
da mesma matéria.

Distância

A terra daí
tão preta quanto possa,
é preta também aqui
chão da mesma roça.

Negro, negra,
pela semente
pelo cabelo,
pelo continente.
  
Dói o canto,
o amor, a reza,
a confusa saudade,
chuva chora na terra.

De flor à fruto
é o tempo quem diz
pelas marcas do campo
em nosso matiz.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Fraqueza

O rio segue em silêncio.
Só a noite lhe percorre
sem ao menos querer.

Embaixo o mar espera.
É fome que engole
sem mais nem porquê.

O velho escuta a erva
na brasa que socorre
ausente de poder.



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Alento

Ontem, vida posta
ao sabor do vento,
quem soube mesmo
trazer o tempo
foi o amor atento
ao encontrar a costa.

Hoje, tudo mostra
no rumor que invento,
sorver alento
é provar que gosta
do amor cinzento
na ferida exposta.  

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Nas margens da Baixada

Tem um menino no mangue.

Na mão, a faca Baía corta lama.
Uma Guanabara que lambe
suor de Maria
gozo de cama.

O menino olha.
A menina quer.
Ele fura o brejo.
Ela é mulher.

Ele cheira vapor
na lata do desejo.
Ela limpa a dor
na pata do caranguejo.