sábado, 27 de julho de 2013

Por aí


Talvez seja isso
o que o poeta faz.
O que diz com boca torta,
insubmisso ao que ficou pra trás,
passou de folha morta.
Vive nas ruas, nos campos,
nos cantos e quinas,
na gente aos trancos
pelo solfejo das buzinas.

O que de mais sagrado,
de mais justo, que o poeta faz
é achar engraçado a rima
e nada mais.
Como o vento carrega o som
que sua boca de saudade
traz à terra marrom
quando chuva chega na cidade.  

terça-feira, 23 de julho de 2013

Para sempre Dominguinhos

Ri no fole
ronca o fole
que do fole
rio cá.

Não demore
não se afobe
que o fole
vai chorar.

Quando tu que bem pra longe
destrambelhô a passeá
passeô também meu peito
que te ouviu assubiá.

Por aqui fica teu xêro
no terreiro a perfumá
e as sandália arrastano
pra poeira levantá. 

Ri no fole
ronca o fole
que do fole
rio cá.

Não demore
não se afobe
que o fole
vai chorar.

Marambiré do Bico Doce

para Nei Lopes
Pois bem,
as coisas são pra vadiar
num folguedo de bicho.

São pra imaginar,
como quando a gente sente
que o mundo vai acabar.

Diz que tudo acaba mesmo
e o lugar da gente,
onde a gente chora é que vai ficar.

Esse lugar é dentro e fora
cabeça e coração,
casa e rua.

Se conquista.
Não cai de cima,
vem de luta.   

Pois bem,
as coisas são pra vadiar
num folguedo de bicho.

E pra chegar
seja lá ou em qualquer lugar
caboclo tem que penar.

Pena que também voa
dança que também sonha
liberta quem quer cantar.

Tu que voa,
tu que dança, sonha, canta,
planta o negro dom da vadiança.

Que é cria da sola
num pé de chão rachado
pela linha do tempo.

Tu que sente o peso da lança
de um povo novo em cada tom
que tateia a esperança.

Faz bem,
vadeia no Marambiré
que as coisas são mesmo pra vadiar.

Pois bem,
canta pro povo que vem
dono de seu lugar.

Agô

Chego agora
sempre filho,
agora pai.

Escuto o tempo
e o velho couro.
A terra em brasa e a folha seca.

Na licença falo
quando a cor vier
e a benção deixar.

Em casa chego
que é sempre Aqui
onde quer que eu vá.

Um poema qualquer

Palavra,
feminino ser crivado
na lida que lavra
o querer cultivado.

Delírio qualquer,
de gozo ou de dor
verso – mulher,
que é povo e torpor.

É semente lançada
na prece da colheita,
ilusão germinada
que a poesia ajeita.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Razões

Como há de ter motivo
explico comigo o frio
pra você não entender.

Se há de ter culpado
crio logo ao teu lado
razão para não crer.

Então sem mais que procurar
resta apenas esperar
o que você vai me dizer.


terça-feira, 16 de julho de 2013

De Ojá e Bata Branca

Trançada
Embolada
Bordada
Rendada
Mulher
Riscada
Embainhada
Cruzada
Amarrada
Mulher
Asé Yabá!
Asé Obá!
Asé Oyá!
Asé Yewá!
Mulher

terça-feira, 9 de julho de 2013

Cambiante

Clara fonte entre chagas
em tudo, em si errante,
cada ponte entre mágoas
em nada mais constante.

Cambiante.

Lâmina seca que afagas
em todo amor amante,
cada peito amarras
em nada mais pulsante.

Um samba pra você

A água que escorre por entre as folhas da mata
Socorre o pranto de quem não quer sofrer
O raio que explode no meio da boca molhada
Invade o corpo, o sangue, que só quer ferver

Que só quer ferver
Que só quer ferver

Iansã ê Iansã
Iansã ê Iansã

Molha meu samba que gira
Esse teu samba que gira

Cai a noite, vem chegando a madrugada
Minha alma só quer dançar com você
Temporal vem trazendo trovoada
Minha calma só quer sonhar com você

Sonhar com você
Sonhar com você

Iansã ê Iansã
Iansã ê Iansã

Molha meu samba que gira
Esse teu samba que gira

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sua, nua e crua

Pisa na linha
que a linha é sua
é sua a dor
que também é minha.

Pisa na linha
que a linha é nua
é nua a flor
que também é minha.

Pisa na linha
que a linha é crua
é crua a cor
que também é minha.