quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Açaí

Raiz, rio, beira.
Roxa mancha em matiz.
A cor do olhar,
o cio das chuvas,
dos ventos,
prece que lá do alto chora
o medo da sede, da fome.
Tudo é várzea,
fruto, corpo e desejo.
Alma nutrida
em sonhos de amanhã
pra vida que vem.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Naquele trem


Uma luz sem sombra
que não mira pra trás por não poder voltar.

Ecoam no tempo as canções que se repetem
como se as horas tivessem dedos
com os cabelos presos
entre as mãos que gemem.

É o Vale, João!


O Vale, João
brota pela racha da sola
pela curva da asa
pela mão que é grossa
onde Maria, Tião, Chico, Teresa,
sem estudo tem baião,
banca de bolo, mungunzá.
Tem bronca no fole
na raiva da águia
que no Vale é carcará.
E na sombra da serra, João
a gente folga
a gente gira
e num acaba, João
brota pela racha
pela curva
pela mão
pelo Vale
e num acaba, João...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Territorialidade


Resta o gosto
e a memória da alma.
Tudo vai sendo.
Nada É.
Um fundo falso no mundo novo.
Uma flor de plástico para a mulher. 

Quando cai um corpo que canta

"Mientras pasa la estrella fugaz
acopio en este deseo instantaneo
montones de deseos hondos  y prioritarios
por ejemplo que el dolor no me apague la rabia
que la alegria no desarme mi amor
que los asesinos del pueblo se traguen
sus molares caninos incisivos
y se muerdan judiciosamente el hígado."
Mario Benedetti - Hombre que mira el cielo

Entre frestas de certezas
com jeito infantil de paixão
o som ressoa um canto forte
desses que não há morte
nem receitas de valor.
Quando cai um corpo que canta
o tom dos bichos anuncia
que o vento agora grita mais
e o tempo agora é sempre mais
pois canta o corpo que cai.
De peito aberto
vai como se estivesse chegando
pois partir é chegar em outro
que também sopra, também vibra
que anuncia em fúria:
“- Chega agora um dos que cantam!”
Rezando sim
pra que o canto não cale
e a noite não traga
nenhum sonho em vão.   

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Os versos não pararam...


O silêncio.
Foi ele o poeta
pois também arrisca
suas linhas tortas
enquanto a gente volta chacoalhando os pelos
do mergulho no Mar. 

Terra Preta


As folhas e os pés
no chão, no mato
no cheiro.
O seio nu firme
como a terra nos cabelos é fêmea
fértil e sedutora.
A vida tem seu jeito de fugir
de se esconder do medo
de não chorar sozinha.
Basta calar, ouvir,
suar no Sol
a essência que pulsa nas manhãs.
Pois venha o que há de vir
a dor se refresca
se banha
nos olhos que fecham
que respiram devagar
o doce ar de manjericão.

2 estações


metade do que virá
sempre novo
sempre ainda
o fomos e o seremos
correndo
como crianças
no jardim que
a vida traz
entre nossas estações.