domingo, 30 de setembro de 2012

Campesino


Na poeira do caminho
crescemos na ousadia da paixão contra o destino.

Noite de criança


Ontem a lua se escondeu
como criança atrás da cortina.
Riu daquela que procurava
porque procurar é coisa engraçada.
Segurou a luz do riso que escapava entre os lábios
até não conter mais o sopro que estalou as nuvens.
Como criança saindo de trás da cortina gargalhou em mensagem:
-Ela apareceu... Linda!!
E a noite que seguiu não coube mais em nenhum poema.    
Completa por si só, criança.

Cidade flor de plástico


Domingo.
A flor da estação não cheira.
Cai a tarde condicionada
ao ar de coisa fria.
E vão às lojas, e vão às telas,
e não voltam mais as prosas
mesmo sendo claro o dia.

Sangram vozes latinas


Tal como somos,
são as veias ainda abertas,
o marrom da gente sem arreio,
o grito pelas frestas.
Tal como somos,
oramos no tom das festas
tragando nossos corpos, nossas vozes em pranto
nosso desencanto com o branco colorindo florestas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Nova Roça


Muda o pano outra vez.
De propósito, se propósito houvesse,
veio a primavera sem alarde
assobiando tudo ao seu momento.
Fresco, simples, azul,
vestindo pássaro
tecido em flor.
De novo a semente beija a terra
e os calos na chuva nova
plantam alegria pro verão que vem.

domingo, 23 de setembro de 2012

Sobre a necessidade da arte


Cada verso é essa boca que procura o seio
submerso em infantis apegos.
Precipício dos medos de todas as coisas
em todas as peles.
É procura e desesperada fuga
da solidão compartilhada em coro
na fome dos pobres.
Mas não é dor.
E não é ser.
E não É.
Como o dia amanhece e ponto.
Anoitece e pronto.
Recomeça enquanto outro seio é beijado
mas nunca acaba em qualquer ponto
nunca acaba em ponto algum
continua em mais um seio inacabado...

Força


O saci rodopiou
Ventania na palhoça
Sinhazinha bambeou
Tem mironga lá na roça.
João Martins
Raiz nua na eira
em pelo, em cor.
Cheiro de mato, terra molhada
crua e quente.
Sente quem chora
Crê quem duvida.
Samborepemba, semente da criação.

Rio de Bucaneiro


Meio Mar esse Rio.
Portos em cada esquina,
onde batalhões de mortos bailam em solo sagrado,
náufragos em cio, tédio afogado em sina. 

Bobo Xote de Açucena


O fole mais o sargado
o marvado do tempero
o terrêro esturricado
no danado do teu chêro.
Tu Açucena, quando mexe os cabelo
faz aquele atropelo
na fila do desespero.
Mas tenha pena,
pra provar o teu segredo
não duvide ô tenha medo
esse xote é o primeiro.

Ponteado fim de tarde


Há de se convir.

Tem luz nova o sorriso que nutre.
Confusa às vezes, é verdade.
Mas plena.
Nossos corpos folhas secas,
desejam além da existência.
Sonhos úmidos.

Há de se convir.

Sorrisos, desejos, sonhos
quando confundem a seca fibra do saber,
gozam do ponteado além da experiência.
Puro, mesmo que não convenha. 
Na tarde que cai
debulhando o proseado.


sábado, 22 de setembro de 2012

Escolhas


Como tudo é temporal e no temporal cantamos,
são os olhos fechados, os olhos do frio que se aquece,
o não saber, o não chorar , o supor da madrugada no vulto das horas,
isso tudo e nada disso no porquê do passado que esperamos.

É o passado presente como fruta de vez.
Vive na pele agora, dá gosto,
mas no empretecer do cacho
quem amadurece é o meio, na escolha necessária do que ainda não se fez.

Escolhe por paixão...
sem medo, como quem canta,
porque tudo mais é razão.
Tudo mais é certeza que não se alcança.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Subúrbio



Minha alma é esquina
em tom maior de rima.

É a falta do dente e o excesso de gosto.
É a calçada - presente, adjetivo composto.


Cumpleaños



Se mil coisas coubessem num dia,  
todo dia como sem querer saber
ao invés do anoitecer,   
seus sonhos guardaria.

É preciso o tempo.
Escuro, medonho, ausente,
mistério amargo da gente,
descobrir o que traz o momento.

As lições se clareando
deixa Clarear, o tempo passear,
deixa a beleza cobrir seu manto
pra debaixo dele, feito criança brincar.

Se mil coisas coubessem num dia,  
todo dia como sem querer saber
ao invés do anoitecer,   
seus sonhos guardaria.

  

domingo, 16 de setembro de 2012

O verso e a lembrança



Tem poemas que sonham com a gente.
Pregam peças no passado, não se sabe onde
num desfazer de mente
que todo momento esconde.  

Surgem.
São capazes de saltar do vazio
do mar ao rio
até o corpo se afogar.

Os atropelos das noites confusas,
trazem você Morena.
Outra música, outro lugar
suas mãos na rédea da manhã serena.

O claro da noite



É realmente um olhar de mulher.
Claro, longo e solitário.
É a Vida que teima em ser vivida
com medo de dormir pra inocência.

É a terrível sina de sentir o mundo em cada passo,
todo o amor em cada recomeço.

Marcas



Chuva e chão
do momento ao infinito,
sem velas
sem proa
sem dom.

Gente e terra
do sofrimento ao veredicto,
em mazelas  
ecoa  
em som.

Escorre a vida em cicatrizes.
Chora na lida a multidão.

Silêncio Tamborim



É de marcação
e toda marcação evolui.

Cala antes de mudar o passo.
Espera em silêncio a oração.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Epifania


...tão claro como a falta do que nem se viveu.
pulsante, estranho, inquieto,
vivo.

Um afeto desprendido,
apego certo dos seus ais.

Logo mais Flor
o tempo é seu ...
...tão claro como a falta do que nem se viveu.